Corneta Esportiva

Diego Corneta

Sócrates é o autor da frase. Não o ex-jogador do Timão e da seleção, o grego, filósofo. Lá na Grécia antiga (bota antiga nisso, estima-se que Sócrates viveu entre 470 - 399 a.C), o cara já sacou que um dos primeiros passos para o engrandecimento pessoal é justamente o reconhecimento das próprias limitações. Pelé nasceu destro e genial. Ao longo de muitos anos de treino, passou a chutar também com a esquerda, passando a ser mais genial. Herrera é tipo o Pelé ao avesso. Explico.

Herrera nasceu destro e ruim. O rapaz cresceu, ganhou massa muscular, força e altura. Só não ganhou futebol, pois uma coisa é aprimorar características já existentes, ou pré-existentes. Outra coisa, completamente diferente, é ensinar um grosso a jogar bola. O grosso pode ter um ótimo preparo físico, pode aprender a se movimentar melhor, se posicionar melhor, pode aprender até a chutar um pouco melhor, mas nada muito além.

Há bons jogadores a até jogadores medianos que pensam que são craques. Exemplos são caras como Dodô, Souza (ex-São Paulo), Felipe (ex-Vasco), Lulinha, Denílson, etc. O contrário também existe. Há excelentes jogadores e até craques que não se consolidam e nem se consideram como tal. Os motivos vão desde as limitações físicas até as emocionais, passando pela falta de vontade e gana. Exemplos para essa categoria também são muitos: Rivaldo, Souza (ex-Corinthians), Giovani (ex-Santos), etc.

Herrera está em outra categoria, diferente das duas citadas. Ele tem uma grande vantagem em relação a muitos outros jogadores, tem plena consciência das suas limitações. Isso é raro no futebol. Raríssimo mesmo. Ele é tão ruim, mas tão ruim, que procura compensar sua cruel deficiência técnica com muito suor. Fui ao Pacaembu no último sábado. Sob muita chuva e frio, o Corinthians fez 3X0 na Ponte Preta. Não foi um bom jogo, salvo as participações de Willian (um gigante, ganhou todas, por cima e por baixo), Douglas (joga o fino, com dribles e passes que valem o ingresso) e Herrera.

Ver o Herrera jogar é comovente. Ele não fez nenhum gol, mas participou ativamente dos três que o Corinthians marcou, e perdeu outros tantos. Ele não pára. Corre o tempo todo, marca a saída de bola, dá carrinho, divide todas possíveis e marca até cobrança de lateral dos adversários. Mesmo sendo ruim, com essa postura e com essa entrega, todo mundo passa a gostar dele. O técnico, seus companheiros e a torcida. E por se movimentar o tempo todo, ele participa muito do jogo. Por ser ruim, perde a maioria das bolas e das jogadas, mas ninguém pode acusá-lo de omissão.

Ele é tão ciente de suas limitações que em muitas bolas, prefere passar a chutar no gol. E olha que ele é centroavante, joga na posição mais fominha do futebol. Um bom centroavante é fominha por excelência. Herrera não, ele é solidário. Entre tentar o chute e o gol, ele prefere passar, mesmo que a melhor opção fosse tentar o arremate. Herrera, como solidário, não se importa em sentar no banco. Mas a torcida e os jogadores não suportam jogador "chinelinho" e “corpo-mole”. Se o Corinthians tiver alguma pretensão para o ano que vem, terá que contratar um bom centroavante. E por melhor que se seja o novo centroavante, não lhe bastará apenas fazer gols, terá que correr. E muito.