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quinta-feira, outubro 20, 2005

O texto alheio 

Diego Corneta

Li o texto e quero compartilhar com os poucos leitores do nosso Corneta. Retrata em palavras o sentimento que muita gente está sentindo.

Anderson, Diogo, Wellington
José Roberto Torero, colunista da Folha

Nada tem mais importância agora. Nem a defesa acrobática, o passe milimétrico, o drible desconcertante, o lançamento que desenha um arco perfeito, a bola que se aconchega no peito do centroavante, o chute que estufa a rede, a torcida que grita de felicidade... Nada mais tem graça nem gosto. Morreu Anderson. Morreu Diogo. Morreu Wellington. Um não verá mais os gols de Tevez, outro não falará mais que Leão é o melhor técnico do Brasil, outro não dirá com orgulho que seu time foi fundado no século retrasado. Morreram Anderson, Diogo e Wellington.

Os assassinos foram outros torcedores, outros que compartilhavam o mesmo gosto pelo futebol. Só mudavam a camisa e a bandeira. Tanto assassinos quanto assassinados cantavam os hinos de seus clubes, economizavam para comprar ingressos e abraçavam seus colegas após um gol.Anderson, Diogo e Wellington eram jovens. Seus times ainda marcariam milhares de gols e ganhariam centenas de partidas. Por eles, Anderson, Diogo e Wellington viajariam, pulariam, dançariam, beberiam, dariam risadas, chorariam. Mas agora não há mais Anderson. Não há mais Diogo. Não há mais Wellington.

Seus assassinos são covardes que matam quando estão em maioria ou armados. São jovens que não se vêem representados em nada. Nem partidos, nem associações de bairro, nem sindicatos, nem igrejas. Nada. Só se vêem em seu time. Seu único grupo é sua torcida. É uma gente que diz que o futebol é a principal coisa de sua vida. E, quando isso acontece, alguma coisa está errada.

O futebol não é mais importante que a arte, que a política, que o Brasil, que sua cidade. Não é mais importante que Anderson, que Diogo, que Wellington.Os torcedores que mataram estes torcedores não fundaram o São Paulo, o Palmeiras ou o Corinthians. Não jogaram por eles, nem trabalham para eles. Não fizeram sua glória nem conquistaram campeonatos. Se estes assassinos não existissem, seus times não jogariam pior nem melhor. São só pagantes de ingressos.

Talvez os torcedores-assassinos pensem que, por fazer parte de uma torcida, por amar um clube, façam parte de uma coisa maior.Mas o futebol não é uma coisa maior. O futebol é só futebol. E, na verdade, na verdade mesmo, o futebol não tem nenhuma importância. Ele não cura doenças, ele não asfalta ruas, não constrói esgotos, não dá aumento nem amor. É só um esporte. E os times são apenas agremiações que nasceram para praticar este esporte. Não nasceram para ser o motivo de uma vida. Ou de uma morte.

Anderson, 26 anos, foi espancado por 15 pessoas.Diogo, 23 anos, morreu com uma bala nas costas.Wellington, 25 anos, foi baleado na cabeça. Hoje não vejo a menor graça em escrever sobre futebol. O futebol é assassino. O futebol é desonesto. O futebol é dinheiro e violência, é cobiça e ódio. Nada mais tem importância hoje. Nada. Só Anderson, Diogo e Wellington.

O país do futebol
Há poucos dias dei uma entrevista para estudantes que me perguntaram se o Brasil é o país do futebol. Falei que sim, e, confesso, com orgulho. Disse que nenhum outro país joga tão bem quanto nós, nenhum tem tantos jogadores em qualidade e quantidade. Hoje, acho que fui uma besta. Um imbecil. Pensando melhor, é uma vergonha ser o país do futebol. Orgulho seria se fôssemos o país da democracia, da honestidade, o país sem fome, sem assassinatos. Você não escuta dizerem que a Índia é o país do críquete, que Cuba é o do beisebol, que os EUA são o do futebol americano, que a China é o do tênis de mesa. E não escuta porque eles são bem mais que isso. Ser o país do futebol é pouco para o Brasil. Um prêmio de consolação. E que não consola.

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