<$BlogRSDURL$>

sexta-feira, setembro 23, 2005

Eu, terrorista 

Diego Corneta

Saí do trabalho animado. Noite boa, temperatura agradável. Encontrei-me com o amigo Pedrão Pistão e partimos para o Pacaembu. Duas paradinhas e algumas cervejas depois, nós já estávamos no estádio. Quando fomos entrar, passávamos pela habitual revista e o PM pediu para eu abrir minha mochila. Até aí, tudo bem. Ele está cumprindo o dever dele; zelar pela segurança de todos. "O que é isto?", perguntou-me grosseiramente. Provavelmente, ele nunca tinha visto um. "É um livro", respondi. "Livro? Não vai poder entrar. Não pode entrar com livros!". Vejam só! Fiquei perplexo! Tentei argumentar e disse que eu não ia atirar o livro em ninguém, era material escolar, coisa e tal. Nada. A sacrossanta glória da burrice não me permitiu entrar. Isqueiro, batuques, garrafas, paus e pedras podem passar, livros não. Afinal, livros são perigosos, fazem as pessoas pensarem. Refletirem. Tem outra, ao invés de acompanhar o jogo, eu poderia muito bem sacar meu livro e... ler! Realmente uma ameaça, a leitura.

Pois bem, mudei de fila. Pedrão já estava lá dentro me esperando. Chego novamente na revista. Fui barrado outra vez!. O mesmo inacreditável motivo. "Livros não podem entrar!". Daqui a pouco, do jeito que as coisas andam, vão perguntar: "Você sabe ler?" Se a resposta for afirmativa, um truculento PM vai impedir sua entrada. Mais uma vez, ainda tentei dialogar. Parece-me que os PMs não sabem fazer isso, dialogar. Entrei na terceira e última fila da revista e finalmente consegui entrar com o livro proibido. Pode?

Outro dia eu li no blog do Mário Bortolotto – um escritor, essa profissão perigosíssima – que um amigo dele foi preso por estar vendendo... livros! O cara tinha uma banca de livros usados, teve seus produtos apreendidos e foi em cana! Livros! Tudo porque ele não tinha "autorização oficial" para trabalhar no local. Livros são proibidos. E enquanto isso, nosso país continua na mesma merda de sempre. Proporcionalmente, há mais livrarias em Paris do que no Brasil todo. É um fato. Buenos Aires tem cerca de 5 milhões de habitantes. São Paulo tem mais ou menos 18 milhões. E lá na capital Argentina tem mais livrarias e bibliotecas do que em São Paulo. É por essas e muitas outras que nosso país seguirá na merda por muito tempo.

O jogo? O primeiro tempo foi muito bom. O Timão marcou dois gols, mas só um valeu. Perdeu algumas chances e 1X0 foi pouco. No segundo, o time voltou covarde e sonolento. Mesmo assim, jogando contra uma equipe fraquíssima da zona de rebaixamento, o Corinthians ainda criou bons contra-ataques, mas não soube matar o jogo. No final, quando o time estava em seu melhor momento e pressionava o Atlético-MG, Márcio tratou de frustrar os mais de 20 mil que foram ao Pacaembu. Friamente, o que funciona melhor, a defesa ou o ataque corintiano? Não precisa ser gênio para saber que não dá para confiar na defesa do Corinthians. Márcio sacou Roger e Eduardo para botar o péssimo Wendel e o limitado Wescley. Pediu para tomar o gol de empate; implorou. O castigo veio com um terrível gosto amargo. O Corinthians irrita pois perde pontos mais por seus próprios erros do que por mérito dos adversários. Foi assim contra Botafogo (3X3), Goiás (1X1), Internacional (0X0), Juventude (2X2) e outros mais. No final, os gritos de "burro" ecoavam no Pacaembu. Fiquei sem saber se eram pro Márcio, ou se eram pros PMs.

Termino o texto com uma música do genial Tom Zé, chamada Burrice.

Veja que beleza
Em diversas cores
Veja que beleza
Em vários sabores
A burrice está na mesa

Veja que beleza !

Refinada, poliglota
Anda na direita
Anda na esquerda
Mas a consagração
Chegou com o advento
Da televisão
Da televisão
Da televisão

Ensinada nas Escolas
Universidades e principalmente
Nas academias de louros e letras
Ela está presente
Ela está presente

Senhoras e senhores,
Senhoras e senhores,
Se neste momento solene não lhes proponho um feriado comemorativo para a sacrossanta glória da burrice nacional, é porque todos os dias, graças a Deus, do Oiapoque ao Chuí dos pampas aos seringais, ela já é gloriosamente festejada, gloriosamente festejada


0 Comentários:

Post a Comment

0 Cornetadas

This page is powered by Blogger. Isn't yours?