segunda-feira, dezembro 20, 2004
Pequeno compêndio ludopédico especial de fim de ano, ou, um resumo final do futebol
Por Diego Corneta
De enrolação, já basta o título. Vamos aos fatos, o tempo urge e o ano acaba-se rapidamente. Foi o ano marcado por times pequenos e sem tradição que se saíram bem. Foi o ano onde um atleta cardíaco morreu em campo, e outro, também cardíaco, sagrou-se o maior artilheiro da história. Foi o ano em que seqüestraram a mãe do Robinho. Foi o ano em que Ronaldinho Gaúcho tornou-se uma unanimidade mundial. Foi o ano em que o Adriano deixou de ser uma promessa e passou a ser realidade. Foi o ano em que grandes jogadores brasileiros foram negociados. Foi o ano no qual veteranos (como Romário, Edmundo, Valdo, etc...) definitivamente não brilharam. Foi o ano de uma honrosa e inédita medalha de prata no futebol feminino. Foi o ano de uma triste e melancólica medalha de bronze no futebol de salão. Foi o ano do Brasil na Copa América. Foi o ano da Argentina nas Olimpíadas. Foi um ano. Mais um.
Um absoluto e determinado São Caetano atropelou o São Paulo, Santos e ganhou o título paulista em cima do organizado Paulista de Jundiaí, que por sua vez eliminara o Palmeiras. E o Corinthians foi salvo da vergonha do rebaixamento na última rodada, graças a um gol do Grafite e a uma vitória do São Paulo sobre o outro ameaçado. Se dependesse das próprias pernas o alvinegro teria caído.
A Copa do Brasil, esvaziada dos times que disputavam a Libertadores, viu um claudicante Flamengo ser derrotado por um ofensivo e bem armado Santo André. Méritos para um jovem treinador que já havia levado o modesto Brasiliense à decisão. Péricles Chamusca (que nome!) deixa de ser promessa e passa a ser realidade.
O desconhecido Once Caldas, jogando numa retranca implacável, eliminou São Paulo, Santos e Boca Juniors para se tornar campeão da América. Foi a consagração das “duas linhas de quatro jogadores defensivos”. Isso mesmo, nove jogadores, o goleiro e mais oito de linha, posicionados atrás da linha da bola, preocupando-se apenas em defender.
Lá na Europa, Porto e Mônaco deixaram para trás Milan, Arsenal, Real Madrid, Chelsea, Bayern de Munique e Juventus; todos favoritos. Fizeram uma final merecida e o Porto levou o principal caneco Europeu. Aplausos para José Mourinho, um estrategista que ganhou tudo o que disputou no ano passado e agora segue vitorioso no Chelsea.
Na final intercontinental da Taça Toyota, no Japão, o Porto (reforçado de Diego e Luis Fabiano) massacrou o Once Caldas com quatro bolas na trave e um gol anulado injustamente. Nos pênaltis, fez-se justiça e os portugueses levaram a melhor.
A Eurocopa também viu um time jogar feio, mas de maneira eficiente. A modesta Grécia, jogando com as famosas “duas linhas de quatro jogadores defensivos” foi campeã. Na final derrotou Portugal de Felipão, Deco, Figo e Cristiano Ronaldo, o destaque da competição. Beckham, Owen, Henry, Totti, Del Piero, Ballack, Raúl, e outros “craques” europeus pouco ou nada fizeram, e foram apenas coadjuvantes.
Adriano, o Imperador, foi o principal jogador da conquista brasileira na Copa América. Alex, Luisão e Júlio César também foram bem. A decepção ficou por conta de Mancini, Luis Fabiano, Felipe e Vagner Love. A seleção levou o título aos trancos e barrancos, ganhou de times fraquíssimos e teve sérias dificuldades contra equipes melhores. A mesmice e a caretice da dupla (nada) dinâmica Parreira e Zagallo demonstra sinais de desgaste. Também a seleção principal brilhou apenas contra equipes fracas (Bolívia, Hungria e Venezuela). Brasil e Argentina fizeram um jogo parelho e equilibrado lá no Mineirão, mas tínhamos um Ronaldo inspirado e decisivo. 3 X 1 para o Brasil, em três pênaltis sofridos e convertidos pelo Fenômeno.
A Europa assiste a uma mega-liga de super times. Real Madrid, Milan, Barcelona, Chelsea, Inter de Milão, Arsenal, Manchester United e Bayern de Munique se reforçaram ainda mais e contam com equipes fortíssimas. Todas estão nas oitavas-de-final da Copa dos Campeões, que começa em fevereiro de 2005.
O frio, técnico, rápido e eficiente Shevchenko marcou gols importantíssimos para o Milan e para a Ucrânia, que lidera seu grupo nas eliminatórias européias. O habilidoso, rápido e insinuante Henry faz pequenos milagres no Arsenal, porém não jogou nada na seleção francesa. E enquanto isso, um genial, imprevisível e supremo Ronaldinho Gaúcho firma-se entre os maiores jogadores da história. Seu Barcelona está fortíssimo, mas o craque brasileiro também ficou devendo na seleção. Hoje os três disputam a Bola de Ouro da Fifa. Ainda não sei o resultado. É lógico que torço pelo brasileiro, mas se o prêmio for para os outros dois, também será com justiça. São todos jogadores espetaculares.
Por fim, aqui no Brasil, vimos um campeonato com nível técnico rasteiro, com uma grande alternância de líderes e apenas dois grandes times, que disputaram palmo a palmo o último terço do Brasileirão-04. Atlético-PR e Santos foram os mais ofensivos e os mais equilibrados. O paranaense hesitou no final e assistiu a mais uma conquista santista. A segunda em três anos. E foi a quinta de Luxemburgo, dando ainda mais vantagem sobre os outros técnicos. Ele é o recordista absoluto de títulos brasileiros. Vimos um Robinho vitaminado e artilheiro, que ficou de fora de seis rodadas por causa do seqüestro da sua mãe. Vimos o Serginho morrer em campo numa das cenas mais impressionantes e trágicas da história do futebol brasileiro. Vimos um atacante cardíaco, com duas operações e três “stents” (tubos de aço que alargam as artérias), virar o maior artilheiro da história da competição. Vimos um Corinthians, com um time digno de cair para a segunda divisão, alcançar um inesperado quinto lugar, foi salvo por um sistema altamente defensivo, montado pelo competente e retranqueiro Tite. Vimos um São Paulo hesitante fazer uma campanha excelente. Vimos um Palmeiras bem montado fazer uma campanha surpreendente, classificando-se para a Libertadores com um time muito fraco tecnicamente. Vimos (mais uma vez!) os cariocas lutarem até as últimas rodadas para salvarem suas peles. Vimos (mais uma vez!) o Grêmio cair. Guarani, Vitória e Criciúma vão fazer companhia aos Gaúchos.
Com todas as tragédias, com o crescente poder do STJD (tapetão oficializado), com o empobrecimento constante dos clubes brasileiros, com o êxodo dos jogadores para o exterior, com o fraquíssimo nível técnico, com os estádios mais vazios da história do campeonato nacional; acende-se o sinal amarelo no futebol brasileiro. Torçamos para que em 2005 a situação melhore um pouco. Oxalá. Feliz Natal e Próspero Ano Novo para todos os que acompanham o Corneta Esportiva. Até 2005.
PS: Acabo de saber que o Ronaldinho Gaúcho foi eleito o melhor jogador do mundo em 2004. Confesso que eu fiquei muito feliz. Se o craque brasileiro converter sua técnica e genialidade em títulos, certamente será um dos maiores de todos os tempos, ao lado de Pelé, Maradona, Ronaldo e outros.
De enrolação, já basta o título. Vamos aos fatos, o tempo urge e o ano acaba-se rapidamente. Foi o ano marcado por times pequenos e sem tradição que se saíram bem. Foi o ano onde um atleta cardíaco morreu em campo, e outro, também cardíaco, sagrou-se o maior artilheiro da história. Foi o ano em que seqüestraram a mãe do Robinho. Foi o ano em que Ronaldinho Gaúcho tornou-se uma unanimidade mundial. Foi o ano em que o Adriano deixou de ser uma promessa e passou a ser realidade. Foi o ano em que grandes jogadores brasileiros foram negociados. Foi o ano no qual veteranos (como Romário, Edmundo, Valdo, etc...) definitivamente não brilharam. Foi o ano de uma honrosa e inédita medalha de prata no futebol feminino. Foi o ano de uma triste e melancólica medalha de bronze no futebol de salão. Foi o ano do Brasil na Copa América. Foi o ano da Argentina nas Olimpíadas. Foi um ano. Mais um.
Um absoluto e determinado São Caetano atropelou o São Paulo, Santos e ganhou o título paulista em cima do organizado Paulista de Jundiaí, que por sua vez eliminara o Palmeiras. E o Corinthians foi salvo da vergonha do rebaixamento na última rodada, graças a um gol do Grafite e a uma vitória do São Paulo sobre o outro ameaçado. Se dependesse das próprias pernas o alvinegro teria caído.
A Copa do Brasil, esvaziada dos times que disputavam a Libertadores, viu um claudicante Flamengo ser derrotado por um ofensivo e bem armado Santo André. Méritos para um jovem treinador que já havia levado o modesto Brasiliense à decisão. Péricles Chamusca (que nome!) deixa de ser promessa e passa a ser realidade.
O desconhecido Once Caldas, jogando numa retranca implacável, eliminou São Paulo, Santos e Boca Juniors para se tornar campeão da América. Foi a consagração das “duas linhas de quatro jogadores defensivos”. Isso mesmo, nove jogadores, o goleiro e mais oito de linha, posicionados atrás da linha da bola, preocupando-se apenas em defender.
Lá na Europa, Porto e Mônaco deixaram para trás Milan, Arsenal, Real Madrid, Chelsea, Bayern de Munique e Juventus; todos favoritos. Fizeram uma final merecida e o Porto levou o principal caneco Europeu. Aplausos para José Mourinho, um estrategista que ganhou tudo o que disputou no ano passado e agora segue vitorioso no Chelsea.
Na final intercontinental da Taça Toyota, no Japão, o Porto (reforçado de Diego e Luis Fabiano) massacrou o Once Caldas com quatro bolas na trave e um gol anulado injustamente. Nos pênaltis, fez-se justiça e os portugueses levaram a melhor.
A Eurocopa também viu um time jogar feio, mas de maneira eficiente. A modesta Grécia, jogando com as famosas “duas linhas de quatro jogadores defensivos” foi campeã. Na final derrotou Portugal de Felipão, Deco, Figo e Cristiano Ronaldo, o destaque da competição. Beckham, Owen, Henry, Totti, Del Piero, Ballack, Raúl, e outros “craques” europeus pouco ou nada fizeram, e foram apenas coadjuvantes.
Adriano, o Imperador, foi o principal jogador da conquista brasileira na Copa América. Alex, Luisão e Júlio César também foram bem. A decepção ficou por conta de Mancini, Luis Fabiano, Felipe e Vagner Love. A seleção levou o título aos trancos e barrancos, ganhou de times fraquíssimos e teve sérias dificuldades contra equipes melhores. A mesmice e a caretice da dupla (nada) dinâmica Parreira e Zagallo demonstra sinais de desgaste. Também a seleção principal brilhou apenas contra equipes fracas (Bolívia, Hungria e Venezuela). Brasil e Argentina fizeram um jogo parelho e equilibrado lá no Mineirão, mas tínhamos um Ronaldo inspirado e decisivo. 3 X 1 para o Brasil, em três pênaltis sofridos e convertidos pelo Fenômeno.
A Europa assiste a uma mega-liga de super times. Real Madrid, Milan, Barcelona, Chelsea, Inter de Milão, Arsenal, Manchester United e Bayern de Munique se reforçaram ainda mais e contam com equipes fortíssimas. Todas estão nas oitavas-de-final da Copa dos Campeões, que começa em fevereiro de 2005.
O frio, técnico, rápido e eficiente Shevchenko marcou gols importantíssimos para o Milan e para a Ucrânia, que lidera seu grupo nas eliminatórias européias. O habilidoso, rápido e insinuante Henry faz pequenos milagres no Arsenal, porém não jogou nada na seleção francesa. E enquanto isso, um genial, imprevisível e supremo Ronaldinho Gaúcho firma-se entre os maiores jogadores da história. Seu Barcelona está fortíssimo, mas o craque brasileiro também ficou devendo na seleção. Hoje os três disputam a Bola de Ouro da Fifa. Ainda não sei o resultado. É lógico que torço pelo brasileiro, mas se o prêmio for para os outros dois, também será com justiça. São todos jogadores espetaculares.
Por fim, aqui no Brasil, vimos um campeonato com nível técnico rasteiro, com uma grande alternância de líderes e apenas dois grandes times, que disputaram palmo a palmo o último terço do Brasileirão-04. Atlético-PR e Santos foram os mais ofensivos e os mais equilibrados. O paranaense hesitou no final e assistiu a mais uma conquista santista. A segunda em três anos. E foi a quinta de Luxemburgo, dando ainda mais vantagem sobre os outros técnicos. Ele é o recordista absoluto de títulos brasileiros. Vimos um Robinho vitaminado e artilheiro, que ficou de fora de seis rodadas por causa do seqüestro da sua mãe. Vimos o Serginho morrer em campo numa das cenas mais impressionantes e trágicas da história do futebol brasileiro. Vimos um atacante cardíaco, com duas operações e três “stents” (tubos de aço que alargam as artérias), virar o maior artilheiro da história da competição. Vimos um Corinthians, com um time digno de cair para a segunda divisão, alcançar um inesperado quinto lugar, foi salvo por um sistema altamente defensivo, montado pelo competente e retranqueiro Tite. Vimos um São Paulo hesitante fazer uma campanha excelente. Vimos um Palmeiras bem montado fazer uma campanha surpreendente, classificando-se para a Libertadores com um time muito fraco tecnicamente. Vimos (mais uma vez!) os cariocas lutarem até as últimas rodadas para salvarem suas peles. Vimos (mais uma vez!) o Grêmio cair. Guarani, Vitória e Criciúma vão fazer companhia aos Gaúchos.
Com todas as tragédias, com o crescente poder do STJD (tapetão oficializado), com o empobrecimento constante dos clubes brasileiros, com o êxodo dos jogadores para o exterior, com o fraquíssimo nível técnico, com os estádios mais vazios da história do campeonato nacional; acende-se o sinal amarelo no futebol brasileiro. Torçamos para que em 2005 a situação melhore um pouco. Oxalá. Feliz Natal e Próspero Ano Novo para todos os que acompanham o Corneta Esportiva. Até 2005.
PS: Acabo de saber que o Ronaldinho Gaúcho foi eleito o melhor jogador do mundo em 2004. Confesso que eu fiquei muito feliz. Se o craque brasileiro converter sua técnica e genialidade em títulos, certamente será um dos maiores de todos os tempos, ao lado de Pelé, Maradona, Ronaldo e outros.