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quarta-feira, agosto 11, 2004

ATENAS, 108 ANOS DEPOIS 

Por Pedrão Pistão

Aproveitando a proximidade do início da Olimpíada de Atenas 2004, gostaria de tecer alguns comentários sobre a “evolução” dos Jogos. Nada do que vou escrever é grande novidade, porém, vale a lembrança.

Atenas volta a sediar uma Olimpíada após 108 anos, quando, em 1896, foi palco dos primeiros jogos de verão da Era Moderna, idealizados pelo Barão de Cobertain. O Barão fazia ressurgir, assim, uma antiga tradição dos gregos, que gostavam de realizar jogos esportivos entre soldados. Tentando estender ao mundo essa tradição e, ao mesmo tempo, ampliando seus significados, o Barão de Cobertain consagrou uma frase célebre: “o importante não é vencer e sim competir”.

A época era marcada pelo Neocolonialismo europeu e a rivalidade entre as nações do Velho Continente era enorme. Os Jogos tinham como função a confraternização entre os povos do mundo, e o esporte sempre foi muito eficaz nisso. Os atletas eram amadores; não havia televisão; não havia patrocinadores oficiais; em resumo, não havia quase nado do que existe hoje.

Em 2004, a frase do Barão só serve para promover os jogos, dar um “sentido” mais magnânimo ao evento. O que todos querem mesmo é ganhar, não importa como. Trapaças, artimanhas, manipulação das regras, tudo é válido com o intuito de levar a tão sonhada medalha de ouro para casa. É triste, mas os jogos viraram uma disputa entre marcas esportivas, patrocinadores e pessoas interessadas apenas em ganhar dinheiro. O atleta é um mero meio para se conseguir o que realmente importa; entra um, sai outro, e tudo continua e, aparentemente, sempre continuará do mesmo jeito.

E o tão propagado Espírito Olímpico, onde anda? Lembro de uma cena ocorrida nos Jogos de Sydney. Um nadador africano, que mal sabia nadar, tentando completar a prova que disputava. Será que esse episódio reflete o real Espírito Olímpico, ou virou motivo de chacota mundial? O atleta africano tentava, apenas, participar. Não tinha a mínima chance de vencer. Muitos o aplaudiram, mas por pena ou por reconhecerem o esforço individual de alguém querendo representar seu país? Espírito Olímpico é isso?

Os pensadores de plantão podem me dizer que os Jogos refletem o que se passa no mundo, no dia-a-dia de cada um. Podem culpar o capitalismo, demônio que só existe para gerar lucro para poucos. Mas eu não caio nessa. Eu acho que o buraco é bem mais embaixo. Eu creio que é natural da raça humana a competição. Desde os tempos mais remotos, o homem briga e faz de tudo para se sobressair em relação ao seu semelhante. Na nossa sociedade atual, sem valores sólidos, o sonho, o superficial, o desejo vazio molda falsos heróis, falsas situações, falsos vencedores, que só existem dentro de seus êxitos isolados. O mundo necessita de heróis, pois a realidade nua e crua é difícil de ser encarada.

Vivemos na Era dos “falsos melhores”. O melhor nadador, o melhor atleta, o melhor advogado, o melhor cantor, o melhor.... O que vale, é ser o melhor. Eu só me questiono quem define as regras que apontam quem é melhor em cada setor da vida. Será que existe um livrinho explicando todas as classificações e subclassificações? Porque, do meu ponto de vista, ninguém é melhor que ninguém, é apenas diferente.

Entretanto, no esporte e na vida, só temos olhos para os “medalhas de ouro”. O que ocorre é um massacre de mentes e personalidades. Chega a ser cruel o modo de vida dos campeões. Desde muito jovens, 10,12, 13 anos, são expostos a uma rotina de treinamentos das mais severas, muita vezes, obrigados pelos pais. Eu me questiono se são realmente felizes ou se, na verdade, nada disso importa. Quem liga para o campeão mundial de Queda-de-Braço? Quem liga para o atleta mais rápido do mundo? Fora alguns familiares e fanáticos e, claro, alguns patrocinadores. Os “melhores do mundo” só são aplaudidos pelos seus feitos imediatos e nada mais. No dia seguinte, voltam à rotina de suas vidas e o mundo, com o passar do tempo, esquece-os ou arruma alguém para substituí-los.

Afinal, os Jogos Olímpicos, hoje em dia, servem pra quê? Milhares de atletas sonham e treinam durante quatro anos para disputá-los. O que, realmente, motiva essas pessoas; somente amor à pátria ou fama e fortuna? Vamos parar de ser hipócritas e enxergar a verdade. Tem muito esportista por aí se mudando de nacionalidade em troca de um punhado de dólares. Ninguém mais é atleta amador, são todos profissionais e vivem das conquistam que alcançam. Profissão: atleta! Quem vai culpá-los de utilizarem métodos ilícitos para vencer, pois dependem das vitórias para sobreviver. Como todos sabem, o roubo e a trapaça contaminam todas as esferas da vida moderna e o esporte, infelizmente, é apenas mais um exemplo disso.

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