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quarta-feira, maio 05, 2004

Ascensão e queda do Diego – parte 1 

Por Diego Corneta

Diego ama a Argentina. A Argentina ama Diego. Com essa premissa básica e fundamental eu gostaria de iniciar minhas reflexões sobre os fatos ocorridos com o ex-jogador e atual celebridade (só para usar uma palavra da moda), Diego Armando Maradona. Sem dúvida nenhuma, Maradona foi um dos maiores jogadores de todos os tempos. Ele é um desses jogadores eternos. Tem seu lugar cativo no Panteão dos deuses da Bola, ao lado de Pelé, Garrincha e outros. Futebolisticamente falando, utilizando uma imagem cristã para uma metáfora infame, eu diria que Garrincha está sentado ao lado direito de Pelé. Já Maradona, à esquerda. Vejam bem, não estou falando das pessoas e de suas vidas pessoais, com todos os erros e acertos, estou me referindo única e exclusivamente do futebol, das ações dentro das quatro linhas.

Diego foi o maior jogador que eu já vi jogar. Na Copa de 86, o Brasil ainda não era uma democracia plena, Tancredo, que seria nosso primeiro presidente civil desde o golpe em 64, morreu antes de assumir, em 85. Então, um obscuro senador chamado José Sarney assumiu a presidência de uma forma também obscura. Para quem não se lembra, Aureliano Chaves era o vice e o sucessor direto do Tancredo, porém sabemos que a história foi outra. A Argentina acabava de sair de uma guerra contra o ímpeto imperialista da Inglaterra. Tomaram as Malvinas dos nossos vizinhos por dois motivos. Um, tinham esperança de achar petróleo no arquipélago. Dois, é um ponto estratégico do ponto vista comercial e militar. Descobriram depois que lá não há petróleo, mais ainda assim continua sendo um lugar estratégico. No extremo sul do continente sul-americano, entre os dois oceanos mais importantes (o Atlântico e o Pacífico) e perto do pólo sul, que junto com o pólo norte e o Brasil, representam as maiores reservas de água potável do mundo.

Dentro desse contexto histórico, depois da fatídica eliminação do Brasil pela França, e com as atuações antológicas do “El Pibe D’oro” (O menino de ouro), meu pai e eu passamos a torcer pela Argentina. Lá em casa não tem essa raiva e essa rixa contra os argentinos, pelo contrário, sempre gostamos muito deles. A rixa é mais ao norte, com os EUA. Enfim, lembro-me muito bem dos jogos e gols do Maradona. Outro nome que ficou no meu imaginário, e no imaginário de todos os que acompanharam aquela Copa, foi “Burrochaga”. Não há como negar, esse nome definitivamente atraía a atenção de qualquer pessoa, especialmente das crianças.

Os gols que o Maradona fez contra a Inglaterra foram a redenção de todo um país. Os argentinos estavam engasgados e humilhados com a Guerra das Malvinas, os ingleses eram favoritos e tinham Gary Lineker. Maradona fez um gol com a “mão de Deus”, e outro driblando meio time. No lance, ele não driblou apenas os jogadores, driblou todo o poderoso exército inglês, todo o grandioso império britânico, driblou até a rainha. Era um povo contra outro. A nação Argentina driblou junto com Maradona, comemorou junto com Maradona. A nação era o Maradona e o Maradona era a nação. Indissociável. Um gol foi fruto da esperteza do Diego e da miopia do bandeirinha. O outro foi uma obra de arte. Vitória incontestável. A atuação do camisa 10 foi impecável. Mesmo caçado ele correu o jogo inteiro, driblou, deu toques de calcanhar, lançou, sofreu muitas faltas e decidiu o destino de seu país ao marcar dois gols.
Continua no próximo capítulo...

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