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sexta-feira, março 05, 2004

Rivaldo, o patinho feio 

Por Diego Corneta

Depois de uma curta passagem vexatória pelo Cruzeiro, com 12 jogos e 3 gols marcados (1 contra !), Rivaldo caiu fora. Disse que foi em “solidariedade” ao amigo Luxemburgo... enfim, ganha o Cruzeiro (será ?) que não precisa mais escalar um jogador decadente e que não vem rendendo o esperado. Isso sem mencionar o nababesco salário que Rivaldo recebia.

Rivaldo é um caso curioso, o patinho feio do futebol brasileiro. Vamos aos fatos. Sua forma lenta e dispersa de jogar, sua fisionomia de retirante com cara de fome e o longo tempo que ele está em evidência contribuem para que aparente muito mais que seus 32 anos. Não é de hoje que está em baixa, isso vem sendo uma constante desde o fim da Copa de 2002. No Milan não conseguiu ter as excelentes atuações que marcaram sua passagem por Palmeiras, La Coruña e Barcelona. Rivaldo também jogou muito bem na Copa de 98, na Copa América de 99 e na Copa de 2002.

Começou no pernambucano Santa Cruz, veio para o Mogi Mirim e lá vivia sob a sombra do Válber. Fizeram dois excelentes Campeonatos Paulistas, 92 e 93. Marcou, jogando pelo Mogi, um antológico gol do meio-de-campo, logo após o apito inicial. Ainda em 93 entrou num pacotão e foi vendido ao Corinthians juntamente com Válber, Leto e um lateral, do qual não me lembro o nome. O “craque” do pacote era o meia Válber, um jogador muito habilidoso e de lances geniais. Curiosamente, depois de passagens por Vasco e Japão, Válber desapareceu. Rivaldo, Válber e o habilidoso Leto, os três remanescentes do Carrossel Caipira, começaram muito bem no Corinthians. Logo no primeiro campeonato que disputaram, tiveram excelentes momentos (como nos dois 4 X 3 sobre o Vasco), e foram vice-campeões do Rio-São Paulo, perdendo para o Palmeiras do irascível Edmundo. No Brasileiro de 93 Rivaldo também foi muito bem, mas apesar disso, o Corinthians caiu diante do improvável Vitória. Os então moleques, Dida, Vampeta, Alex Alves e Paulo Isidoro, com a ajuda de um tal de Roberto Cavalo, jogaram muito, mas não o suficiente para barrar o Palmeiras-Parmalat.

As atuações de Rivaldo lhe renderam uma convocação para um amistoso contra o México, na seleção do Falcão. O Brasil ganhou de 1 X 0 e adivinhem quem fez o gol ? Rivaldo, claro. O patinho feio crescia e começava a virar cisne. Foi o melhor em campo e tentou novamente marcar um gol do meio-de-campo. Em 94 trocou o Parque São Jorge pelo Parque Antártica e foi integrar o temido esquadrão do Palmeiras-Parmalat. A partir daí não parou mais de crescer. Entre 94 e 96 Brilhou intensamente ao lado de jogadores como Edmundo, Edílson, Djalminha, Müller, Evair, Roberto Carlos, Luizão e Rincón. Transferiu-se para o La Coruña em 96. Também em 96, afundou em Atlanta junto com o restante da nossa excelente seleção olímpica. Foi injustamente culpado por isso.

Recuperou-se, foi para o poderoso Barcelona e arrebentou. Viveu a melhor fase de sua carreira. Fez gols espetaculares e foi eleito, justamente, o melhor jogador mundo em 99. Apesar de muitos gols, títulos e reconhecimento internacional, Rivaldo nunca foi uma unanimidade. Muitos motivos podem estar por trás disso. Até hoje ainda não se sabe ao certo qual é a melhor posição para Rivaldo atuar, meia-armador, meia-atacante ou atacante. Ele já atuou muito bem nas três posições e, por outro lado, também já atuou muito mal nas mesmas três posições. Outro motivo, Rivaldo é avesso à mídia. Não sorri com facilidade, odeia entrevistas, não gosta de flashes e badalação, ou seja, é extremamente tímido.

O corneta profissional da Folha de S. Paulo, José Geraldo Couto, num texto genial, disse que o Rivaldo é um paradoxo. Não há como discordar de seus precisos argumentos. Um cara extremamente tímido fora de campo, e justamente o contrário, dentro do campo. Só mesmo um jogador muito desenvolto arriscaria lances que o Rivaldo já fez. Dois gols do meio-de-campo (além do citado, teve outro pelo Barcelona), gols de bicicleta, gols de letra, toques e cruzamentos de chaleira, lances individualistas terminados em gols, finalizações e gols de fora da área, dribles humilhantes... enfim, uma galeria de lances e gols maravilhosos. Segundo o mesmo J. G. Couto, o jogador Rivaldo e a pessoa Rivaldo se encontram no momento mais especial para os dois. Na hora do gol. Rivaldo, por sua timidez excessiva, tem vergonha de comemorar seus gols e sai correndo com a camisa por sobre a cabeça. Desenvolveu essa artimanha para se esconder. Só se escondendo ele é capaz de extravasar sua alegria, seu ódio, seus sentimentos na hora do gol. Avaliação sintomática e definitiva.

Como já foi dito, depois da Copa de 2002 ele não conseguiu repetir suas atuações. Mas não é por isso que o jogador deva ser execrado. Por tudo o que ele já jogou e conquistou, merece mais respeito. No momento atual não deve ser chamado para a seleção. Kaká, Alex, Luis Fabiano ou Ronaldinho, podem substituí-lo à altura. Mas ainda assim eu torço para que o patinho feio, antes de encerrar a carreira, volte a ser cisne.

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