Corneta Esportiva

Por Diego Corneta

A maior polêmica da semana foi a louca lista dos melhores jogadores vivos, feita pelo Pelé. Vale ressaltar que são apenas jogadores vivos, craques como o imortal Garrincha ficaram de fora. O Corneta Esportiva não poderia ficar silencioso numa hora dessas. Vamos aos fatos. O Pelé foi o maior jogador com a bola no pé. E ponto final. Mas isso não o credencia como autoridade máxima sobre tudo o que acontece no mundo da bola. Pelé quis mapear o futebol e incluiu jogadores de diversos países, não importando se esses jogadores foram apenas medianos e se os países são inexpressivos, futebolisticamente falando. Sua lista seguiu um claro padrão mercadológico imposto pela FIFA, que visa sempre ampliar os consumidores de futebol mundo afora, e privilegiou descaradamente jogadores que ainda estão em atividade. Só isso justifica um Nakata (Japão). Nos EUA então, um caso raro, duas mulheres aparecem na lista, Mia Hamm (merecidamente) e Michelle Akers. Na primeira versão, Pelé não havia incluído craques como Rivelino e Nilton Santos. Corrigiu a gafe na segunda versão, mas mesmo assim a lista é deficiente e absurda em algumas escolhas. Sem mais delongas, vou comentar país por país. Seguem as cornetadas:

Brasil – Um absurdo ! Cafu ? Carlos Alberto Torres ? Júnior ? Cadê o Tostão ? Cadê o Ademir da Guia ? Sá para citar dois nomes que ficaram de fora e poderiam facilmente integrar a lista. A não ser que você ache que o Cafu tenha jogado mais que o Tostão. Onde está o Furacão ? O Jairzinho, ao lado do próprio Pelé, e do Garrincha, é um dos jogadores brasileiros mais respeitados e admirados lá na Europa. Roberto Carlos também é um nome contestável, mas por tudo o que ele representa na Europa, não vejo como deixá-lo de fora. No Brasil tem tanto jogador bom, que daria para fazer uma lista só de brasileiros.

Argentina – Deus do céu ! Onde Pelé estava com a cabeça ao incluir o Crespo ! Se Crespo está na lista, Viola, Washington e Luizão também deveriam estar. Isso sem falar em Careca, um dos maiores centro-avantes que esse país já teve. Já que era para pôr um Argentino, que fosse o Caniggia, que jogou muito mais que o Crespo. O Zanetti também não desce. Ele é jogador normal. Igual a ele tem no mínimo uns 200. O Saviola é um jovem talento, mas ainda tem que comer muito feijão para ser incluído numa lista dessa importância. Verón também é um nome contestável. E o Fernando Redondo ? Na minha modesta opinião, ele jogou mais que o Verón. Alguém aí sabe quem foi o Omar Sivori ?

Alemanha – Pela sua importância no futebol, com três títulos mundiais, a lista alemã está correta. Apesar de alguns nomes, como Ballack e Kahn, serem no mínimo, suspeitos.

Bélgica – Não conheço dois desses caras, nem posso comentar. Sinto muito a falta do Preud’homme. Foi o maior goleiro que eu já vi jogar. Muito melhor que o Pfaff, goleiro da Copa de 86, que está na lista. Poderia facilmente ter entrado no lugar do compatriota Pfaff, ou do Buffon, ou do Kahn.

Bulgária – Concordo. Esse Stoichkov jogou muita bola. Foi, ao lado do russo Salenko, o artilheiro da Copa de 94. Só esse fato já o credencia para a lista.

Camarões – Roger Milla nunca foi craque, mas era carismático e persistente. Merece estar na lista pelos gols e atuações na Copa de 90, aos 38 anos. Depois, em 1994, tornou-se o jogador mais velho a marcar um gol numa Copa do Mundo, aos improváveis 42 anos !

Chile – Concordo em parte. O Marcelo Sallas jogou muito mais que o Zamorano.

Colômbia – Valderrama nunca foi um craque. Mas sua cabeleira e seu futebol econômico e objetivo o transformaram num ícone. Merece estar na lista.

Coréia do Sul – Sem comentários. Não sei nem falar o nome do cara, mas com certeza absoluta ele é muito pior que muitos jogadores que ficaram de fora da lista. Está aí apenas para fazer uma média com a Coréia, que acabou de sediar a Copa e tem mercado consumidor de futebol enorme. Ridículo.

Croácia – Escolha justa. E óbvia. Além do Suker, qual outro croata se destacou ?

Escócia – Não conheço o figura. Será que jogava alguma coisa ? O Reino Unido é estranho, a Inglaterra tem bons jogadores, já nos demais países, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales, é uma lástima total. São todos da mesma origem étnica, suas culturas não são tão diferentes entre si, mas ainda assim só a Inglaterra tem algum destaque dentro do futebol. Estranho.

Dinamarca – O Romário diz que o melhor jogador que jogou ao seu lado foi o Michael Laudrup, quando ambos arrebentaram no Barcelona. Só isso já credencia o cara. Já seu irmão, o Brian, é uma escolha duvidosa. E o grandalhão Schmeichel foi tão bom quanto o Sílvio Luiz, do São Caetano.

Espanha – Será que o Luis Enrique é tudo isso ? O Raúl tudo bem, passa. E o Butraguenõ não poderia ficar de fora.

EUA – A Mia Hamm foi a melhor jogadora mulher que já existiu. Se é para incluir “minorias” (não gosto desse termo, mas não achei outro adequado), ela merece sim estar na lista. Já a tal de Michelle Akers é uma ilustre desconhecida. Se tem um americano que merecia ser lembrado é o carismático zagueiro Lalas.

França – Quanto perna de pau ! O Brasil é penta e tem 15 jogadores na lista. A Argentina é bi e tem 10. A França ganhou um só e tem 14 ! Cadê um mínimo de coerência ? Por favor, sejamos mais criteriosos. Thuram é um perna de pau. Desailly é bom, mas igual a ele tem uns 200. Viera é outro perna de pau. Trezeguet é uma lenda, não joga nada. Pires é um jogador talentoso, mas também contestável. Por favor alguém me diga quem foi Kopa ! Seria o inimigo do Mario e do Luigi ? Quem foi Marius Tresor ?

Gana – Esse aí, de Pelé só tinha o apelido. Jogou praticamente a carreira inteira na França, mas nunca chegou a jogar em grandes times da Europa. Nome que poderia ter ficado de fora. A África já está muito bem representada com Milla e Okocha.

Holanda – 13 jogadores ! E isso por que eles nunca ganharam nada... Vários nomes suspeitos integram a lista. Quem são os irmãos Kerkohf ? Quem é Neeskens ? Davids ? Seedorf ? Kluivert ? O Davids é uma mala sem alça que joga até de óculos. O Vampeta, na fase áurea, jogando pelo Corinthians, jogou mais que o Davids. O Kluivert é o tipo de atacante que precisa de meia-dúzia de chances para marcar um gol. E o Seedorf é uma lenda, um jogador confuso e displicente. Não marca direito, não arma direito, finaliza mal e raramente faz gols. Para um meia, ele é muito meia boca. Na minha opinião só quatro constariam, Cruyff, Van Basten, Gullit e Bergkamp.

Hungria – Justo. Os coroas dizem que o Puskas jogava o fino.

Inglaterra – Tiraria o Owen, o Beckham e o Alan Shearer. Colocaria o Paul Gascoine, esse sim um grande jogador.

Irlanda – Esse Roy Keane só serviu para marcar o gol em cima do Palmeiras, na final em Tóquio. Mas não é por isso que ele deveria estar na lista. Um jogador medíocre.

Irlanda do Norte – Olha, não vi esse cara jogar, mas a referência é muito confiável. O escritor britânico, fanático por futebol, Nick Hornby, tem páginas e páginas dedicadas ao George Best, em seu livro Febre de Bola. Confio no Hornby, portanto foi uma escollha justa.

Itália – Buffon, Nesta e Vieri não entram nem em lista de supermercado ! Totti também é contestável. Paolo Rossi só jogou a Copa de 82, depois caiu na obscuridade. Mas pelo estrago causado em cima de uma das melhores seleções de todos os tempos, merece estar na lista. Desconheço Rivera, Facchetti e Boniperti.

Japão – O Kazu, que jogou no Santos, era melhor que o Nakata !

Libéria – Vale o comentário sobre Abedi Pelé, de Gana. A África já está muito bem representada com Milla e Okocha. Vale também o comentário de Gilmar Fubá, logo após Corinthians 0 X 0 Milan, por um torneio em Belo Horizonte, 1998. “Na várzea tem crioulo melhor que esse aí.”

México – Justo. Os mexicanos são loucos por futebol e mereciam estar representados. E o Hugo Sanchez, para quem não sabe, é um dos maiores artilheiros da história do Campeonato Espanhol, e um dos maiores ídolos da história do Real Madrid.

Nigéria – Justo. Okocha é um jogador espetacular, pena que sua Nigéria não foi mais longe nas Copas de 1994 e 1998.

Paraguai – Outra escolha justa.

Peru – Dizem que esse Cubillas era extremamente técnico. Não o vi atuando, mas tenho boas referências e confio nelas para afirmar que foi uma escolha justa.

Polônia – Não sei pronunciar o primeiro nome do cara. Já o segundo é mais fácil, algo como Boneca. Não o conheço, mas um sujeito com um nome desses não inspira confiança.

Portugal – Rui Bosta, digo, Rui Costa é um embuste ! Tem, chutando baixo, uns 350 meias melhores que ele. O Figo já tem uma história no futebol. Teve excelentes momentos em Portugal e na Espanha, jogando pelo Barcelona e pelo Real. Mas não é um craque. Quem sabe ele deveria estar na lista só por ser português, já que o lendário Eusébio é moçambicano naturalizado.

República Tcheca – Semelhante à lista de Portugal. Um jogador da antiga incontestável, Masopust. E um jogador da atualidade suspeito, o Nedved.

Romênia – Hagi foi genial. Pena que apareceu tardiamente no futebol mundial. Atuando em times da Romênia, ele era chamado de “Maradona do Cáucaso”.

Rússia – Dasaev foi um dos melhores goleiros que me lembro ter visto. Pena que Yachin, o Aranha-negra, já morreu. Poderia ocupar o lugar do Dasaev.

Senegal – Esse Diouf fez um gol contra a França, e outro golaço no último mundial de 2002. Mas depois ele sumiu, não consta na lista dos artilheiros do Campeonato Francês, onde joga. Muito pouco para um atacante que deva estar na lista.

Turquia – Não conheço nenhum desses caras. Mas qual é a tradição da Turquia ? Escolhas “Mandrake”, totalmente contestáveis.

Ucrânia – Se o Shevchenko real fosse tão bom quanto o Shevchenko do Playstion, ele seria melhor que o Ronaldo fenômeno.

Uruguai – Um jogador só é muito pouco pela história que o Uruguai tem dentro do futebol. São bicampeões e tem menos representantes que França e Inglaterra, com um título cada. A coerência não faz parte da lista do Pelé. Cadê o Pedro Rocha ? Cadê o Ruben Sosa ?

Cornetada final: O Pelé, fora de campo, é o Édson. E o Édson é uma besta !